Quando criei o meu querido blog, prometi a mim mesma que não o iria tornar no meu mundo de lamentações, mas antes num mundo secreto. Um mundo só meu, que também tem aspectos negativos e muitos momentos de angústia ou tristeza, mas nunca um mundo negro de lamentações. Vem cá tudo parar, desde os mails mais castiços que recebo, até aos pensamentos de alegria, às situações estranhas que me acontecem diariamente e às minhas reflexões mais profundas (quer se dizer, se calhar não são assim tão profundas...) A intenção foi sempre tornar isto um espaço agradável.
Por isso, tenho evitado falar aqui do meu trabalho...
Brincadeira, mas pronto. Diz que eu sou professora. Ou melhor, para a nossa ministra da deseducação, eu sou apenas uma candidata a professora, embora tenha a certeza que trabalho muito mais do que muitos professores no ensino há muitos anos, a quem fazia bem uma reciclagem a todos os níveis. Mas isso são outras histórias...
Como muitos milhares, como não estou colocada, trabalho em centros de estudos. Se nas escolas se encontram todo o tipo de alunos, nos centros de estudo ainda é pior... O universo é por vezes difícil de mais e os miúdos estão mais desconcentrados e desmotivados do que a besta do Stepanov (repararam na referência a esta reles besta em dois posts seguidos? Ah, pois é, ainda não engoli...)
Pois então que trabalho muito, e como sou quase tão burra como o Stepanov (ah moço, estás desgraçado comigo...) ainda trabalho mais do que me é pedido, porque caio em erros do género: "Ah vais ter teste? Mas eu amanhã não estou contigo... Mas passa por cá que eu ainda te arranjo umas fichas para treinares..."
Quem me manda a mim ser coraçãozinho de manteiga?!?
Mas então, tudo isto para contar que anda uma gaja a fazer fichas e mais fichas, a arranjar exercícios de toda a maneira e feitio para um desses demónios com quem tenho de conviver, o R. (vou só deixar a inicial não vá a minha identidade ser descoberta...) passar quase as duas horas a pintá-la com canetas de todas as cores, e depois apagar tudo com o corrector e voltar ao início...
Vai daí, conto até vinte, respiro fundo e digo-lhe:
- Ó R., ando eu com tanto trabalho para tu não aproveitares?
E diz ele:
- Desculpe ter desvalorizado o seu trabalho, stôra, mas eu gosto muito de si e sei que se preocupa comigo!
Foi a primeira frase perfeitamente articulada por ele... E ainda por cima foi bonita...