Há muito boa gente, assim mais antiga (que são as melhores pessoas do mundo, as mais sábias, as mais sensatas e as mais bonitas), que diz que as eleições autárquicas são ainda mais importantes do que as legislativas, sobretudo se não vivemos nas grandes cidades. Porque nas vilas e aldeias do nosso Portugal não interessa o valor do défice ou do PIB. Nós queremos é saber se as valetas da nossa rua estão limpas, se o Posto de Saúde tem médicos suficientes para todos ou se a água da fonte da minha rua (atenção que isto não é para todos, mesmo nas aldeias!) está em condições de ser bebida.
Eu vivo numa destas vilas e numa destas ruas. Têm-nos entupido com muitas coisas bem bonitas: ele é hotéis, ele é passeios pedonais e até me quiseram impingir uma praia fluvial (sim, que o nosso rio é maravilhoso para nos banharmos lá!). Para quem exige novidades e criatividade aos governantes, não os podemos censurar. Ideias sobram. Mas coisinhas boas, daquelas terrenas e que sabemos estarem ao nível das possibilidades de uma junta como a minha, vejo pouco.
Finalmente uma mulher que se candidata, com menos de 30 anos. E nós mulheres gostamos disto. Gostamos de ver uma de nós num lugar de destaque, não sermos sempre lideradas por homens é positivo. A juventude não é toda rasca, nem pensar nisso e há pessoal cheio de vontade de se dar aos outros. Pois que a nossa candidata do PS não tem sido bem instruída pelo senhor engenheiro. Porque à minha rua ainda não chegou o programa. E eu até tinha vontade de saber se ela tem ideias criativas. Se para além de um hotel, a minha terra vai passar a ter um shopping ou um TGV. E ela até tem uns cartazes bem porreiros, a criticar a falta de obra em certos pontos da freguesia. Eu deveria relembrá-la que seria de bom tom apresentar propostas nesses mesmos locais. Senão não poderei votar em si, como é óbvio. Nem sequer sei se o viaduto que vai ligar a minha freguesia aqui à do lado vai afectar o meu quintal ou não.
Já para a câmara estamos mais evoluídos. Pois que o candidato do PS (não o próprio, como é óbvio!) até faz campanha por telefone, para mim facto inédito. Mas eu lá fui respondendo ao inquérito, porque o meu jovem interlocutor tinha uma bela voz e eu sou incapaz de negar um pedido a uma coisinha fofa dessas.
A última dúvida existencial, com que tenho atormentado a minha família (leia-se a minha mãe) é: Mas por que raio é que eu nunca sou convidada para nenhuma lista?! Está mal, caraças, está mal. Eu até sou fotogénica pá...