Por um lado, até percebo a ideia. As pessoas compram umas roupitas, ou reutilizam uns trapos que tenham lá para casa, dão umas pinceladas nos beiços e toca a andar para a folia. Põem os seus melhores sorrisos, dançam um bocado e fingem que são felizes. Entretanto, emborcam mais umas mines, engatam um Diabo ou uma Fada, e naquelas horas mais chegadas nada as afecta!
E eu acho bem.
Eu até gosto de festas. Mas não do carnaval. Que não é festa, não é nada. O mundo às vezes já é tão complicado, as vidas já são tão intensas e preenchidas que pensar em vestir ainda mais uma pele por cima de todas as que já uso todos os dias, só me serviria para fazer peso.
Reparem se não é verdade: é a pele que vestimos para aturar aquelas pessoas que cruzam as nossas vidas; é a pele que visto logo de manhã para me suportar, a mim e ao meu mau feitio; é a pele que visto para me mostrar bela aos outros; é a pele que não visto mas que deveria vestir... Já são tantas peles, mas tantas... Gostava era de, por vezes, e só mesmo por vezes, arrancar estas peles todas e ficar nua. Nua de preconceitos, de defeitos ou de cansaços. Preciso de comprar paciência. Para os outros. Mas sobretudo para mim.
P. S. Momento alto destas festividades de Carnaval: na sexta-feira, a J. mascarou-se. O pai da M. disse-lhe: sim senhor, que linda bruxa! Resposta da J, com uma cara que metia medo: Não é bruxa, é mágica...
Onde perdemos nós estes olhares?!