É impressionante como uma boa notícia pode modificar a nossa vida, o nosso humor, a nossa personalidade e a nossa disposição. Hoje foi dia de ir ao terrível IPO, para mais um massacre de ansiedade e expectativa. Sempre que chegam estes dias, o ritual é o mesmo: levantar cedo para evitar o trânsito e preparar a cabeça para enfrentar uma manhã horrorosa.
Não é só os doentes à nossa volta que incomodam: é o sistema que parece nunca funcionar quando chega a nossa vez, é a desgraçada da ansiedade que teima em nos atormentar, é ver o meu pai a enervar-se e sempre ansioso porque é dia de receber resultados e, claro, nem sempre é fácil encontrar a palavra certa para o tranquilizar.
Começou logo mal quando um 'estúpido' de um taxista me buzinou, estava eu na fila, e o meu pai lhe começou a chamar nomes (afinal, eu tinha que sair a alguém!)
Parecia que a sina de um mau dia estava a surgir.
É claro que depois vem o pior: na sala das análises, nunca vi tanta gente junta na ninha vida por razões tão más; é certo que é normal ver aglomerados de gente nos saldos, nos jogos de futebol, nos concertos, na queima, mas não é normal ver centenas de pessoas cancerosas à espera de uma porcaria de análise.
Terceiro aspecto negativo: a máquina avariou.
Ou seja, para quem tinha análise às 9h, chegou às 8h45h e foi atendido já passava das 11h, não se pode considerar uma boa média!
Quarto: dirigimo-nos para a sala de espera de onco-hematologia e, por azar, ficamos ao pé de um doente que tinha muita vontade de falar das suas misérias pessoais: tudo é aceitável quando não é connosco. Por um lado, percebo a sua necessidade de desabafar, mas é difícil ouvir tantas histórias negativas para quem vai receber a notícia de um mielograma, ou trocando por miúdos, saber se a medula continua intacta ou está doente.
Eis que às 13h, ouvimos o nome do meu pai: é chegada a hora difícil!
Felizmente, saiu para fora passados cinco minutos, o que, nestes casos, é muito bom sinal.
E lá vem a boa nova: a medula permanece intacta, o sangue apresenta os valores ideais e a LMA continua em regressão completa.
E pronto, eis senão quando esquecemos a manhã terrível e aquela boa-nova consegue como mais nada neste mundo, colocar-me o meu melhor sorriso na cara.
Não dizem que depois da tempestade vem sempre a bonança?