Há alturas na vida em que parece que andamos exultantes. É ver-nos rir como uns desgraçados, sem razão aparente, por tudo e por nada. Normalmente também é nestas alturas que parece que as coisas boas surgem todas. É aquilo a que se chama um fartote. A felicidade é tanta que quase desconfiamos. Não há mal que nos possa afectar porque nessas alturas parece que desconhecemos esse conceito. Mas não há bem que sempre dure. E mesmo quando não deveria haver razão alguma para que o mal tivesse razão de existir, ele vem. E quando percebemos, já está entranhado. E vai-nos amarrando e deixando cada vez mais sozinhos. Parece que ninguém nos compreende. A verdade é que realmente ninguém nos compreende. Nem nós mesmos. Quando surge a fatal pergunta do porque é que estás assim não sabemos responder. Apenas sentimos aquela tristeza da solidão e da não compreensão. Ver todos à nossa volta felizes e realizados também não é uma ajuda particularmente simpática. Claro que é egoísmo. Olha cada um de nós ter uma varinha de condão para realizar desejos impossíveis e para colocar sorrisos ou lágrimas nos rostos dos que nos rodeiam... Era o que mais haveria de faltar. Depois dizem-nos o não estás bem, muda-te. E nós até mudávamos. Se pudéssemos. Se não fôssemos eternos insatisfeitos. Se soubéssemos mandar no nosso coração e calá-lo quando ele geme baixinho. Ou fazê-lo explodir de felicidade quando esses dias chegam.
E lá vai correndo a vida. E nós a deixarmos fugir dias que poderiam ser de felicidade e deixá-los cair na triste rua do esquecimento.
Bjs