Hoje morreu o mestre. E com ele o meu sonho de o conhecer pessoalmente. Fica a esperança que o tal livro esteja já praticamente escrito. Para me poder ainda deliciar.
O Prémio Nobel da Literatura foi ontem entregue a um escritor francês - Le Clézio. Nada que me levasse a escrever um post sobre ele mas este querido foi responsável pelo meu único chumbo na faculdade. O livrinho responsável é este, se bem que acho que a capa da minha edição não era esta:
Pois que tive de fazer oral sobre esta coisa. Pois que tive um 7. Porque este é um livro de contos, e na oral calhou-me o conto que eu não tinha realmente mesmo percebido. Era o Moloch. Só me lembro que falava sobre um cão. E que inventei muito. E estive muito tempo calada enquanto a prof me fazia uma cara do género anda lá, rapariga que eu quero que passe a isto. (ela até gostava de mim, devo confessar!)
Mas não adiantou. Não saiu nada. E tive de ir a exame e de novo a oral em Setembro. Depois saiu-me um outro conto: La Ronde e correu muito bem, na altura até tive a melhor nota de todos os que foram a oral naquele dia.
Mas este senhor fez-me sofrer. E por isso nunca mais li nada sobre ele. Muito menos em francês que eu sou rapariga de ficar facilmente traumatizada. Mas leiam, leiam e depois avisem se perceberem o que raio falava o Moloch, que era um cão grande. Acho que já tinha dito esta parte.
E por vezes as noites duram meses
E por vezes os meses oceanos
E por vezes os braços que apertamos
nunca mais são os mesmos
E por vezes
encontramos de nós em poucos meses
o que a noite nos fez em muitos anos
E por vezes fingimos que lembramos
E por vezes lembramos que por vezes
ao tomarmos o gosto aos oceanos
só o sarro das noites não dos meses
lá no fundo dos copos encontramos
E por vezes sorrimos ou choramos
E por vezes por vezes ah por vezes
num segundo se envolam tantos anos.
David Mourão-Ferreira
Coisas que não passam. Há quem diga que dentro da cabeça, eu não sei onde. Coisas que de vez em quando voltam e por isso, só por isso, se sabe que nunca passam. Coisas que nos agarram por detrás da nuca, frente a um espelho, sem qualquer propósito, e só nos deixam sem querermos.
Pequenos rogos, doces chamamentos, partidas muitas, asperezas, ciúmes, vícios, abraços ternos, despedidas, raivas, tédios, pequenos espantos, sobressaltos.
Coisas que não passam, há quem diga que dentro da cabeça. Eu não sei onde.
Pedro Paixão, Histórias verdadeiras
O raio de sol da tarde
que uma janela perdida
reflectiu
num instante indiferente -
arde,
numa lembrança esvaída,
à minha memória de hoje
subitamente...
Seu efémero arrepio
zig-zagueia, ondula, foge,
pela minha retentiva...
- E não poder adivinhar
porque mistério se me evoca
esta ideia fugitiva,
tão débil que mal me toca!...
- Ah, não sei porquê, mas certamente
aquele raio cadente
alguma coisa foi na minha sorte
que a sua projecção atravessou...
Tanto segredo no destino duma vida...
É como a ideia de Norte,
preconcebida,
que sempre me acompanhou...
Mário de Sá Carneiro
P.S. Este post é dedicado a s. maggie, que bem está a precisar de um raio cadente...